Por Costábile SS Jr.
1.No inicio de carreira, vocês lançaram três trabalhos “October Of 1998”, “Live At Kalimar e “After The Sun Hides”. Como vocês analisam o surgimento da Ravenland na cena?
Dewindson - Quando a Ravenland surgiu na cena nacional, em meados de 1997, naquela época, as redes sociais da internet não estavam tão em alta quanto hoje, muitas nem existiam, orkut, myspace, facebook, twitter... Mas mesmo assim conseguimos nos destacar na cena recebendo ótimas críticas das principais revistas especializadas em rock/metal da época e muitos zines, através de cartas, vendas de demo-tapes em shows... Fizemos shows em diversas cidades do Nordeste. A cena era bem mais unida do que hoje, construímos excelentes amizades entre bandas do Brasil inteiro como Monasterium, Insanity, Expose your Hate, Pettalom, Imago Mortis, Serpent Rise...
2. O “After The Sun Hides” foi lançado em 2001, ano o qual ocorreu aquele boom de bandas com mulheres nos vocais. O quanto isso ajudou vocês? Receberam aquelas tradicionais repúdias infantis dizendo que vocês estavam querendo se aproveitar da onda para aparecer?
Dewindson - Todas as revistas comentavam na época que não havia outra banda no Brasil fazendo o que estávamos fazendo. Até hoje acredito que a Ravenland não se parece com nenhuma outra banda brasileira que eu conheça, mesmo que use violinos, vocais femininos e masculinos intercalados. Nossa música sempre esteve mais próxima do Doom Gótico europeu, não dessa febre “pós-Nightwish/Epica”, ou dessa enorme quantidade de bandas com vocais líricos. Sempre usamos backings femininos, mas ao ponto de adicionar uma vocalista para dividir os vocais comigo mesmo, só viemos a ter agora no “... and a crow brings me back” (2009), mesmo assim foi mais com a intenção de soar melhor a combinação dos dois vocais do que apelação por conta de mercado. Eu particularmente acho que nós não temos absolutamente nada haver com essa enxurrada de bandas com vocais femininos que apareceram. A Camilla tem muita atitude, ela compôs muitas músicas, escreve muitas letras e ainda toca violino, ela com certeza não é “só mais um rostinho bonitinho”, nós nunca recebemos repudias infantis até porque nós não exploramos somente a imagem dela, usamos sempre a imagem de dois vocalistas.
3. Apesar da receptividade, por que vocês deram um tempo com a banda?
Dewindson – Em 2003, realmente as coisas estavam bem difíceis, pois havíamos perdido todos os teclados já gravados em estúdio do disco devido a um problema no HD. As fitas DAT com a gravação do disco pegaram mofo. A dificuldade de achar músicos empenhados e com os mesmos objetivos profissionais após a saída de André Cardoso (guitarrista) que deixou a banda para morar no interior paulista e do Xandão (baterista) para entrar no Andralls. O dono da gravadora Moonshadow virou evangélico então ficamos sem uma gravadora para lançar o disco, no fim das contas recebi uma proposta para coordenar uma escola de informática na cidade de Fortaleza-CE, resolvi engavetar a Ravenland e me mudei para lá, morei por dois anos naquela cidade maravilhosa, foi onde conheci a Camilla.
4. "...And A Crow Brings Me Back" é um disco bem soturno. Como tem sido a recepção deste trabalho tanto no Brasil como no exterior?
Camilla Raven – A recepção está bem positiva. Recebemos mensagens com elogios do mundo inteiro e isso nos fortalece a continuar na luta aqui no Brasil. Sabemos e vivemos as dificuldades daqui e a cada mensagem que eu leio e tento responder a todos, e a cada voz que escuto nos shows cantando nossas músicas, e a cada texto que sai na mídia sobre a RavenLand, vemos que sim, está dando certo e a nossa música está sendo bem aceita.
5. Neste disco vocês contaram com a produção de Ricardo Confessori. Como aconteceu esse contato? E por que ele teve que gravar a bateria?
Camilla Raven – Através do nosso guistarrista Albanes, o Confessori ficou sabendo que estávamos atrás de um produtor, então ele se interessou e entrou em contato. Ele nos apresentou um excelente estúdio, o Tonelada, que agora é o Fusão e não conhecíamos o Confessori produtor, mas sabíamos que ele era um excelente músico e afinal era o cara que gravou um dos clássicos nacionais, o Holy Land do Angra. Ele nos mostrou os trabalhos que ele estava desenvolvendo, curtimos e fechamos. Logo depois da pré-produção, o nosso antigo baterista Rick descobriu que estava com um problema no joelho e teve de deixar a banda e Confessori disse que poderia gravar, pois já conhecia as músicas e assim poderíamos procurar o novo integrante com mais calma.
6. Ricardo Confessori é um exímio baterista. Vocês sentiram que tiveram que evoluir musicalmente ou não ocorreu este tipo de pressão?
Camilla Raven – Confessori é um excelente baterista, mas ele tem o estilo dele e quando foi gravar o nosso álbum nós repassamos a ele a bateria que queríamos no decorrer da gravação e ele colocou a interpretação dele em cima. Os músicos evoluem naturalmente, a medida que vão ensaiando, compondo e fazendo shows e sentimos que a nossa evolução foi é natural. Mas a questão do Confessori, não houve pressão, pois fazemos o que queremos transmitir, é algo mais feeling. E o nosso estilo é diferente do que o Confessori costuma tocar. Mas ele como produtor foi importante, pois nos fez abrir a cabeça para alguns detalhes que acrescentaram muito a nossas composições.
7. O disco foi masterizado por Waldemar Sorychta, profissional requisitado por grandes bandas da cena. Ficaram satisfeitos com o trabalho dele?
Camilla Raven – Sim, ficamos muito. Sabemos como a masterização é importante para a qualidade final e acredito que fizemos uma boa escolha, pois ele produziu, mixou e masterizou muitas bandas do nosso estilo.
Dewindson – Desde o início eu já estava decidido a masterizar o disco no exterior com o objetivo de adquirir um resultado ainda melhor na finalização do álbum, sempre fui muito fã de todos os discos que o Waldemar Sorychta produziu, (Lacuna Coil, Moonspell, Tiamat, Therion, Sentenced, Samael, The Gathering e Flowing Tears), não imaginava que o nosso CD fosse um dia ser finalizado por ele, mas após um elogio dele em nosso MySpace, foi a ponta que eu precisava para perguntar se ele não queria finalizar o nosso disco, e ele adorou a ideia, nos tratou muito bem e provavelmente iremos trabalhar com ele novamente no futuro, desta vez espero que possamos trabalhar desde a produção inicial até a finalização.
8. Recentemente, vocês fizeram uma participação especial na única apresentação do Moonspell no Brasil. Com certeza, vocês tiveram um enorme prazer por isso. Fale desta experiência e até da amizade que vocês tem com os portugueses.
Dewindson – Nós já tinhamos uma ótima amizade há alguns anos, mas sempre foi pela internet, quando o Fernando Ribeiro me falou que tocaria no Brasil em 2009, ele pediu para que eu falasse com o produtor para tocarmos juntos, a Ravenland e o Moonspell. Coincidentemente, a Overload Records (responsável pelo show do Moonspell) já havia entrado em contato conosco para abrir o show da Agua de Annique, mas não rolou porque estávamos gravando o videoclipe de “End of Light” e o Gustavo da Overload perguntou se toparíamos tocar com os Moonspell, eu falei para ele que seria ótimo, toparia na hora. Então inicialmente estaríamos no cast do show Ravenland/Tiamat/Moonspell, mas infelizmente, devido ser a data do último show da tour e ter caído numa terça-feira, não haveria tempo para a apresentação de três bandas, então fomos convidados, a Ravenland, a ficar no camarim com eles e de última hora o convite a participar da música Luna e Alma Mater. Não resisti, falei pro Fernando que seria um sonho realizado para mim, ele vibrou e curtimos muito, foi fantástico. Nossa amizade como diz o Fernando Ribeiro, é como se fosse de irmãos lobos, unidos mesmo que distante pela luz e o feitiço lunar.
9. Além disso, vocês serão a banda de abertura para o Theatre of Tragedy em São Paulo. Como está a expectativa de vocês para este show sendo que a responsabilidade muito grande. Afinal está será a primeira e última vez (até o momento) que os caras vem ao Brasil.
Camilla Raven – Sim... Realmente será um imenso prazer tocar nesse show histórico. Já sabíamos há algum tempo que a banda iria encerrar carreira, mas não esperávamos que eles ainda fizessem um show no Brasil e será uma grande honra fazer parte desse dia que ficará eterno em nossa memória e história.
10. Vocês sabem se Tommy Lindal, ex-Theatre Of Tragedy, vai participar desse show?
Camilla Raven – A principio acredito que não, ele está ocupado com os projetos dele e fica complicado vir a SP. Fizemos o convite para ele tocar as duas músicas que ele gravou do nosso álbum. E quem sabe dê certo ele vir também, seria uma grande festa.
11. Como aconteceu o contato com o Tommy? Ele teve alguma participação nas composições do disco?
Camilla Raven – O contato foi através do afilhado do Dewindson que fez amizade com o Tommy no RN. Começamos a nos falar por telefone e internet e surgiu uma grande amizade. Fizemos o convite da participação e ele aceitou na hora. Ficamos muito contentes. Ele compôs somente a parte dele, o deixamos vontade para colocar o toque dele que acabou sendo um toque da era mágica do TOT, Velvet Darkness e a Rose for the Dead que acrescentou muito a nossa composição.
12. Infelizmente, o Brasil ainda não é um mercado tão propicio para as bandas de Metal. Vocês tem a intenção de buscar algo no exterior?
Camilla Raven – Sim, com certeza. Infelizmente, é até uma questão cultural. Mas recebemos muitas mensagens de fãs de outros países, até porque a nossa gravadora também distribui em alguns países como Alemanha, Espanha e EUA, por exemplo. Mas, recentemente, fechamos distribuição via Plastichead/Code7 no Reino Unido, Irlanda e Europa Continental e acredito que vamos colher bons frutos na Europa.
13. Como foi a gravação do vídeo clipe para a musica "End Of Light" no tradicional castelinho e a sua repercussão?
Dewindson – O castelinho da Rua Apa é misterioso, sombrio e apaixonante tanto pela sua arquitetura gótica francesa quanto pela sua história verídica de amor e morte, bem ao estilo Edgar Allan Poe, ele se encaixou como uma luva para o nosso vídeo clipe “End of light”. Não imaginávamos que com uma produção de baixo custo fossemos conseguir entrar na programação da MTV, graças ao ótimo trabalho do produtor Luiz Amorim e da participação da atriz Elaine Thrash, assim como de todos que participaram e nos ajudaram a realizá-lo, conseguimos isso e muito mais com este clipe.
Desde a primeira vez que passei em frente aquele castelo, eu disse; “Que belo! Que sombrio! Que história magnífica! É o lugar perfeito para gravar um clipe da Ravenland, um dia ainda irei gravar um clipe aqui”.
14. Dias atrás, o Metal perdeu Peter Steele. Vocês poderiam dimensionar o tamanho desta perda?
Camilla Raven – Foi uma grande perda. O Type influenciou bandas do mundo inteiro. Não tenho como dimensionar esta perda, só posso comentar que eu devo a ele o rumo que a nossa vida levou.
Dewindson – Sem Bloody Kisses e October Rust, acreditem, nosso direcionamento musical na Ravenland e de muitas outras bandas de gothic metal que existem hoje e ainda são grandes, não seria igual, pois Peter influenciou Nick Holmes, Ville Vallo, Fernando Ribeiro, Jirki69 e a mim, só para resumir.
A morte de Peter Steele me afetou muito, me senti muito mal, ele se foi muito novo e a história e união que a banda Type O Negative construiu, me deixa mais triste ainda pelos outros integrantes que tiveram uma vida de experiências ao lado dele. “Como devem estar se sentindo agora?” É uma pergunta que não sai da minha cabeça. O disco “October Rust”, em especial, está entre os melhores discos que já escutei e que marcou muito a minha vida.
15. Nos últimos meses, a Camilla Raven figurou na lista das novas musas do metal nacional ao lado da Dani, do Shadowside. Como vocês vêem está questão da beleza "sobressaindo" o lado musical. Vocês acreditam que a questão da beleza também acaba pesando por manter a qualidade profissional?
Dewindson – Eu acho que a beleza não se sobressai ao lado musical e nem pesando por manter a qualidade profissional, mas pode combinar e ajudar perfeitamente. A Dani e a Camilla realmente são mulheres que esbanjam muito talento, para mim isso sobressai a qualquer aspecto físico, seja feia ou bela para mim é fechar os olhos e curtir a música, mas confesso que ser casado com uma das musas do metal nacional dessa lista me deixa em ótima posição. (risos)
16. Muitas bandas nacionais que estão em destaque como Torture Squad, Claustrofobia, Shadowside, Mindflow, Hibria, Distraught e muitas outras, apesar do reconhecimento da midia, muitos internautas se aproveitam da internet para ficar falando besteiras ao invés de fazer criticas construtivas. Como vocês tem lidado com isso?
Camilla Raven – Temos que estar preparados para isso, porque, infelizmente, algumas pessoas, quando não gostam de uma banda, eles não a deixam de lado, eles vão atrás para falar mal. E se isso acontece é porque a banda está em destaque também. Críticas construtivas são bem-vindas, estamos sempre tentando melhorar e evoluir. Mas o que pode ser legal pra mim, pode ser ruim para você. Não tenho muito o que reclamar, pois acredito que a RavenLand tem uma ótima aceitação, mas, vendo o meu lado sobre as minhas composições, mesmo se ninguém gostasse, eu continuaria do mesmo jeito, pois aquilo é o que eu quero transmitir, minhas músicas sou eu musicada.
17. Como vocês avaliam o atual patamar do cenário nacional?
Dewindson – Atualmente vejo excelentes bandas surgindo a cada dia, mesmo que algumas nem cheguem a lançar um disco, ainda sim estão representando bem a cena nacional, e acredito que este lance de falar que existe somente Angra, Sepultura e Krisiun é meio que limitar e matar o resto das dezenas de bandas que temos em nosso cenário atual que representam muito bem este atual patamar da cena, como Torture Squad, Andralls, Hangar, Shadowside, Ravenland, Ocultan, Eternal Malediction, Sunseth Midnight, Ancesttral, Deventter, Kamala, Claustrofobia, Tuatha de Danann, Unearthly, Mindflow, Shaman e muitas outras, sem falar nas clássicas que continuam na ativa com grande qualidade como Korzus e Genocídio...
18. Como anda a agenda de shows da Ravenland? Vocês também estão sofrendo com esta onda de bandas internacionais e covers que estão devastando o cenário nacional?
Dewindson – Nossa agenda está até boa, poderia estar melhor, atualmente temos 12 shows marcados no Brasil, algo entre 3 no Nordeste, 2 no Centro Oeste, 5 no Sudeste e 2 no Sul, incluindo aí o show de abertura da Anneke (ex-The Gathering) com Danny (Anathema), além do festival Roça´n´Roll em Minas Gerais e o histórico show com o Theatre of Tragedy aqui em São Paulo.
Concordo com você quando diz que esta onda de bandas internacionais e covers estão devastando o cenário nacional, pois como nossa moeda brasileira é desvalorizada e a grana é curta para a maioria do público que vai aos shows. Então eles acabam tendo que escolher entre tantos shows internacionais para ir do que o de uma banda brasileira que ele pode ver quando quiser depois.
Tocar a música dos outros é fácil, criar suas próprias composições e fazer com que o público cante junto com você as suas músicas, vibre, se emocione e ainda compre o seu CD, isso sim é o que quero ver fazerem.
19. Quais são os próximos projetos da banda?
Camilla Raven – Estamos trabalhando as composições do próximo álbum que pretendíamos lançar ainda esse ano, mas com a tour européia marcada para setembro resolvemos começar as gravações na volta e acredito que vamos lançá-lo no primeiro semestre do ano que vem. Estamos guardando gravações ao vivo e outros materiais para um futuro DVD. Pretendemos lançar o clipe de SoulMoon antes de mostrar as musicas novas. Algumas coisas tem o processo demorado até por causa da agenda de shows. Temos muitos planos e muito o que mostrar, mas cada coisa ao seu tempo. Agora estamos nos preparando para o acústico com a Anneke (ex-The Gathering) e Danny (Anathema).
20. Deixe um recado para os internautas.
Camilla Raven – Primeiramente, quero agradecer o espaço. E aos internautas, aguardem muitas novidades que estão por vir. Estamos muito satisfeitos com as músicas novas e ansiosos para mostrar. E também espero vê-los nos shows! Quero agradecer o carinho de todos que nos enviam mensagens, Obrigada!
Dewindson – Gostaria de agradecer aqui aos nossos fãs que participam da comunidade da Ravenland no orkut e não percam nosso show da “...and a crow brings me back tour 2010” em sua cidade. Um forte abraço sob as asas dos corvos da Ravenland. E sigam-nos no Twitter e Facebook.
www.ravenland.net
www.myspace.com/ravenland
www.youtube.com/ravenlandchannel
www.twitter.com/ravenlandband
Fonte: Costábile SS Jr. - The Ultimate Press
1.No inicio de carreira, vocês lançaram três trabalhos “October Of 1998”, “Live At Kalimar e “After The Sun Hides”. Como vocês analisam o surgimento da Ravenland na cena?
Dewindson - Quando a Ravenland surgiu na cena nacional, em meados de 1997, naquela época, as redes sociais da internet não estavam tão em alta quanto hoje, muitas nem existiam, orkut, myspace, facebook, twitter... Mas mesmo assim conseguimos nos destacar na cena recebendo ótimas críticas das principais revistas especializadas em rock/metal da época e muitos zines, através de cartas, vendas de demo-tapes em shows... Fizemos shows em diversas cidades do Nordeste. A cena era bem mais unida do que hoje, construímos excelentes amizades entre bandas do Brasil inteiro como Monasterium, Insanity, Expose your Hate, Pettalom, Imago Mortis, Serpent Rise...
2. O “After The Sun Hides” foi lançado em 2001, ano o qual ocorreu aquele boom de bandas com mulheres nos vocais. O quanto isso ajudou vocês? Receberam aquelas tradicionais repúdias infantis dizendo que vocês estavam querendo se aproveitar da onda para aparecer?
Dewindson - Todas as revistas comentavam na época que não havia outra banda no Brasil fazendo o que estávamos fazendo. Até hoje acredito que a Ravenland não se parece com nenhuma outra banda brasileira que eu conheça, mesmo que use violinos, vocais femininos e masculinos intercalados. Nossa música sempre esteve mais próxima do Doom Gótico europeu, não dessa febre “pós-Nightwish/Epica”, ou dessa enorme quantidade de bandas com vocais líricos. Sempre usamos backings femininos, mas ao ponto de adicionar uma vocalista para dividir os vocais comigo mesmo, só viemos a ter agora no “... and a crow brings me back” (2009), mesmo assim foi mais com a intenção de soar melhor a combinação dos dois vocais do que apelação por conta de mercado. Eu particularmente acho que nós não temos absolutamente nada haver com essa enxurrada de bandas com vocais femininos que apareceram. A Camilla tem muita atitude, ela compôs muitas músicas, escreve muitas letras e ainda toca violino, ela com certeza não é “só mais um rostinho bonitinho”, nós nunca recebemos repudias infantis até porque nós não exploramos somente a imagem dela, usamos sempre a imagem de dois vocalistas.
3. Apesar da receptividade, por que vocês deram um tempo com a banda?
Dewindson – Em 2003, realmente as coisas estavam bem difíceis, pois havíamos perdido todos os teclados já gravados em estúdio do disco devido a um problema no HD. As fitas DAT com a gravação do disco pegaram mofo. A dificuldade de achar músicos empenhados e com os mesmos objetivos profissionais após a saída de André Cardoso (guitarrista) que deixou a banda para morar no interior paulista e do Xandão (baterista) para entrar no Andralls. O dono da gravadora Moonshadow virou evangélico então ficamos sem uma gravadora para lançar o disco, no fim das contas recebi uma proposta para coordenar uma escola de informática na cidade de Fortaleza-CE, resolvi engavetar a Ravenland e me mudei para lá, morei por dois anos naquela cidade maravilhosa, foi onde conheci a Camilla.
4. "...And A Crow Brings Me Back" é um disco bem soturno. Como tem sido a recepção deste trabalho tanto no Brasil como no exterior?
Camilla Raven – A recepção está bem positiva. Recebemos mensagens com elogios do mundo inteiro e isso nos fortalece a continuar na luta aqui no Brasil. Sabemos e vivemos as dificuldades daqui e a cada mensagem que eu leio e tento responder a todos, e a cada voz que escuto nos shows cantando nossas músicas, e a cada texto que sai na mídia sobre a RavenLand, vemos que sim, está dando certo e a nossa música está sendo bem aceita.
5. Neste disco vocês contaram com a produção de Ricardo Confessori. Como aconteceu esse contato? E por que ele teve que gravar a bateria?
Camilla Raven – Através do nosso guistarrista Albanes, o Confessori ficou sabendo que estávamos atrás de um produtor, então ele se interessou e entrou em contato. Ele nos apresentou um excelente estúdio, o Tonelada, que agora é o Fusão e não conhecíamos o Confessori produtor, mas sabíamos que ele era um excelente músico e afinal era o cara que gravou um dos clássicos nacionais, o Holy Land do Angra. Ele nos mostrou os trabalhos que ele estava desenvolvendo, curtimos e fechamos. Logo depois da pré-produção, o nosso antigo baterista Rick descobriu que estava com um problema no joelho e teve de deixar a banda e Confessori disse que poderia gravar, pois já conhecia as músicas e assim poderíamos procurar o novo integrante com mais calma.
6. Ricardo Confessori é um exímio baterista. Vocês sentiram que tiveram que evoluir musicalmente ou não ocorreu este tipo de pressão?
Camilla Raven – Confessori é um excelente baterista, mas ele tem o estilo dele e quando foi gravar o nosso álbum nós repassamos a ele a bateria que queríamos no decorrer da gravação e ele colocou a interpretação dele em cima. Os músicos evoluem naturalmente, a medida que vão ensaiando, compondo e fazendo shows e sentimos que a nossa evolução foi é natural. Mas a questão do Confessori, não houve pressão, pois fazemos o que queremos transmitir, é algo mais feeling. E o nosso estilo é diferente do que o Confessori costuma tocar. Mas ele como produtor foi importante, pois nos fez abrir a cabeça para alguns detalhes que acrescentaram muito a nossas composições.
7. O disco foi masterizado por Waldemar Sorychta, profissional requisitado por grandes bandas da cena. Ficaram satisfeitos com o trabalho dele?
Camilla Raven – Sim, ficamos muito. Sabemos como a masterização é importante para a qualidade final e acredito que fizemos uma boa escolha, pois ele produziu, mixou e masterizou muitas bandas do nosso estilo.
Dewindson – Desde o início eu já estava decidido a masterizar o disco no exterior com o objetivo de adquirir um resultado ainda melhor na finalização do álbum, sempre fui muito fã de todos os discos que o Waldemar Sorychta produziu, (Lacuna Coil, Moonspell, Tiamat, Therion, Sentenced, Samael, The Gathering e Flowing Tears), não imaginava que o nosso CD fosse um dia ser finalizado por ele, mas após um elogio dele em nosso MySpace, foi a ponta que eu precisava para perguntar se ele não queria finalizar o nosso disco, e ele adorou a ideia, nos tratou muito bem e provavelmente iremos trabalhar com ele novamente no futuro, desta vez espero que possamos trabalhar desde a produção inicial até a finalização.
8. Recentemente, vocês fizeram uma participação especial na única apresentação do Moonspell no Brasil. Com certeza, vocês tiveram um enorme prazer por isso. Fale desta experiência e até da amizade que vocês tem com os portugueses.
Dewindson – Nós já tinhamos uma ótima amizade há alguns anos, mas sempre foi pela internet, quando o Fernando Ribeiro me falou que tocaria no Brasil em 2009, ele pediu para que eu falasse com o produtor para tocarmos juntos, a Ravenland e o Moonspell. Coincidentemente, a Overload Records (responsável pelo show do Moonspell) já havia entrado em contato conosco para abrir o show da Agua de Annique, mas não rolou porque estávamos gravando o videoclipe de “End of Light” e o Gustavo da Overload perguntou se toparíamos tocar com os Moonspell, eu falei para ele que seria ótimo, toparia na hora. Então inicialmente estaríamos no cast do show Ravenland/Tiamat/Moonspell, mas infelizmente, devido ser a data do último show da tour e ter caído numa terça-feira, não haveria tempo para a apresentação de três bandas, então fomos convidados, a Ravenland, a ficar no camarim com eles e de última hora o convite a participar da música Luna e Alma Mater. Não resisti, falei pro Fernando que seria um sonho realizado para mim, ele vibrou e curtimos muito, foi fantástico. Nossa amizade como diz o Fernando Ribeiro, é como se fosse de irmãos lobos, unidos mesmo que distante pela luz e o feitiço lunar.
9. Além disso, vocês serão a banda de abertura para o Theatre of Tragedy em São Paulo. Como está a expectativa de vocês para este show sendo que a responsabilidade muito grande. Afinal está será a primeira e última vez (até o momento) que os caras vem ao Brasil.
Camilla Raven – Sim... Realmente será um imenso prazer tocar nesse show histórico. Já sabíamos há algum tempo que a banda iria encerrar carreira, mas não esperávamos que eles ainda fizessem um show no Brasil e será uma grande honra fazer parte desse dia que ficará eterno em nossa memória e história.
10. Vocês sabem se Tommy Lindal, ex-Theatre Of Tragedy, vai participar desse show?
Camilla Raven – A principio acredito que não, ele está ocupado com os projetos dele e fica complicado vir a SP. Fizemos o convite para ele tocar as duas músicas que ele gravou do nosso álbum. E quem sabe dê certo ele vir também, seria uma grande festa.
11. Como aconteceu o contato com o Tommy? Ele teve alguma participação nas composições do disco?
Camilla Raven – O contato foi através do afilhado do Dewindson que fez amizade com o Tommy no RN. Começamos a nos falar por telefone e internet e surgiu uma grande amizade. Fizemos o convite da participação e ele aceitou na hora. Ficamos muito contentes. Ele compôs somente a parte dele, o deixamos vontade para colocar o toque dele que acabou sendo um toque da era mágica do TOT, Velvet Darkness e a Rose for the Dead que acrescentou muito a nossa composição.
12. Infelizmente, o Brasil ainda não é um mercado tão propicio para as bandas de Metal. Vocês tem a intenção de buscar algo no exterior?
Camilla Raven – Sim, com certeza. Infelizmente, é até uma questão cultural. Mas recebemos muitas mensagens de fãs de outros países, até porque a nossa gravadora também distribui em alguns países como Alemanha, Espanha e EUA, por exemplo. Mas, recentemente, fechamos distribuição via Plastichead/Code7 no Reino Unido, Irlanda e Europa Continental e acredito que vamos colher bons frutos na Europa.
13. Como foi a gravação do vídeo clipe para a musica "End Of Light" no tradicional castelinho e a sua repercussão?
Dewindson – O castelinho da Rua Apa é misterioso, sombrio e apaixonante tanto pela sua arquitetura gótica francesa quanto pela sua história verídica de amor e morte, bem ao estilo Edgar Allan Poe, ele se encaixou como uma luva para o nosso vídeo clipe “End of light”. Não imaginávamos que com uma produção de baixo custo fossemos conseguir entrar na programação da MTV, graças ao ótimo trabalho do produtor Luiz Amorim e da participação da atriz Elaine Thrash, assim como de todos que participaram e nos ajudaram a realizá-lo, conseguimos isso e muito mais com este clipe.
Desde a primeira vez que passei em frente aquele castelo, eu disse; “Que belo! Que sombrio! Que história magnífica! É o lugar perfeito para gravar um clipe da Ravenland, um dia ainda irei gravar um clipe aqui”.
14. Dias atrás, o Metal perdeu Peter Steele. Vocês poderiam dimensionar o tamanho desta perda?
Camilla Raven – Foi uma grande perda. O Type influenciou bandas do mundo inteiro. Não tenho como dimensionar esta perda, só posso comentar que eu devo a ele o rumo que a nossa vida levou.
Dewindson – Sem Bloody Kisses e October Rust, acreditem, nosso direcionamento musical na Ravenland e de muitas outras bandas de gothic metal que existem hoje e ainda são grandes, não seria igual, pois Peter influenciou Nick Holmes, Ville Vallo, Fernando Ribeiro, Jirki69 e a mim, só para resumir.
A morte de Peter Steele me afetou muito, me senti muito mal, ele se foi muito novo e a história e união que a banda Type O Negative construiu, me deixa mais triste ainda pelos outros integrantes que tiveram uma vida de experiências ao lado dele. “Como devem estar se sentindo agora?” É uma pergunta que não sai da minha cabeça. O disco “October Rust”, em especial, está entre os melhores discos que já escutei e que marcou muito a minha vida.
15. Nos últimos meses, a Camilla Raven figurou na lista das novas musas do metal nacional ao lado da Dani, do Shadowside. Como vocês vêem está questão da beleza "sobressaindo" o lado musical. Vocês acreditam que a questão da beleza também acaba pesando por manter a qualidade profissional?
Dewindson – Eu acho que a beleza não se sobressai ao lado musical e nem pesando por manter a qualidade profissional, mas pode combinar e ajudar perfeitamente. A Dani e a Camilla realmente são mulheres que esbanjam muito talento, para mim isso sobressai a qualquer aspecto físico, seja feia ou bela para mim é fechar os olhos e curtir a música, mas confesso que ser casado com uma das musas do metal nacional dessa lista me deixa em ótima posição. (risos)
16. Muitas bandas nacionais que estão em destaque como Torture Squad, Claustrofobia, Shadowside, Mindflow, Hibria, Distraught e muitas outras, apesar do reconhecimento da midia, muitos internautas se aproveitam da internet para ficar falando besteiras ao invés de fazer criticas construtivas. Como vocês tem lidado com isso?
Camilla Raven – Temos que estar preparados para isso, porque, infelizmente, algumas pessoas, quando não gostam de uma banda, eles não a deixam de lado, eles vão atrás para falar mal. E se isso acontece é porque a banda está em destaque também. Críticas construtivas são bem-vindas, estamos sempre tentando melhorar e evoluir. Mas o que pode ser legal pra mim, pode ser ruim para você. Não tenho muito o que reclamar, pois acredito que a RavenLand tem uma ótima aceitação, mas, vendo o meu lado sobre as minhas composições, mesmo se ninguém gostasse, eu continuaria do mesmo jeito, pois aquilo é o que eu quero transmitir, minhas músicas sou eu musicada.
17. Como vocês avaliam o atual patamar do cenário nacional?
Dewindson – Atualmente vejo excelentes bandas surgindo a cada dia, mesmo que algumas nem cheguem a lançar um disco, ainda sim estão representando bem a cena nacional, e acredito que este lance de falar que existe somente Angra, Sepultura e Krisiun é meio que limitar e matar o resto das dezenas de bandas que temos em nosso cenário atual que representam muito bem este atual patamar da cena, como Torture Squad, Andralls, Hangar, Shadowside, Ravenland, Ocultan, Eternal Malediction, Sunseth Midnight, Ancesttral, Deventter, Kamala, Claustrofobia, Tuatha de Danann, Unearthly, Mindflow, Shaman e muitas outras, sem falar nas clássicas que continuam na ativa com grande qualidade como Korzus e Genocídio...
18. Como anda a agenda de shows da Ravenland? Vocês também estão sofrendo com esta onda de bandas internacionais e covers que estão devastando o cenário nacional?
Dewindson – Nossa agenda está até boa, poderia estar melhor, atualmente temos 12 shows marcados no Brasil, algo entre 3 no Nordeste, 2 no Centro Oeste, 5 no Sudeste e 2 no Sul, incluindo aí o show de abertura da Anneke (ex-The Gathering) com Danny (Anathema), além do festival Roça´n´Roll em Minas Gerais e o histórico show com o Theatre of Tragedy aqui em São Paulo.
Concordo com você quando diz que esta onda de bandas internacionais e covers estão devastando o cenário nacional, pois como nossa moeda brasileira é desvalorizada e a grana é curta para a maioria do público que vai aos shows. Então eles acabam tendo que escolher entre tantos shows internacionais para ir do que o de uma banda brasileira que ele pode ver quando quiser depois.
Tocar a música dos outros é fácil, criar suas próprias composições e fazer com que o público cante junto com você as suas músicas, vibre, se emocione e ainda compre o seu CD, isso sim é o que quero ver fazerem.
19. Quais são os próximos projetos da banda?
Camilla Raven – Estamos trabalhando as composições do próximo álbum que pretendíamos lançar ainda esse ano, mas com a tour européia marcada para setembro resolvemos começar as gravações na volta e acredito que vamos lançá-lo no primeiro semestre do ano que vem. Estamos guardando gravações ao vivo e outros materiais para um futuro DVD. Pretendemos lançar o clipe de SoulMoon antes de mostrar as musicas novas. Algumas coisas tem o processo demorado até por causa da agenda de shows. Temos muitos planos e muito o que mostrar, mas cada coisa ao seu tempo. Agora estamos nos preparando para o acústico com a Anneke (ex-The Gathering) e Danny (Anathema).
20. Deixe um recado para os internautas.
Camilla Raven – Primeiramente, quero agradecer o espaço. E aos internautas, aguardem muitas novidades que estão por vir. Estamos muito satisfeitos com as músicas novas e ansiosos para mostrar. E também espero vê-los nos shows! Quero agradecer o carinho de todos que nos enviam mensagens, Obrigada!
Dewindson – Gostaria de agradecer aqui aos nossos fãs que participam da comunidade da Ravenland no orkut e não percam nosso show da “...and a crow brings me back tour 2010” em sua cidade. Um forte abraço sob as asas dos corvos da Ravenland. E sigam-nos no Twitter e Facebook.
www.ravenland.net
www.myspace.com/ravenland
www.youtube.com/ravenlandchannel
www.twitter.com/ravenlandband
Fonte: Costábile SS Jr. - The Ultimate Press
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